sexta-feira, 9 de agosto de 2019

OS SILÊNCIOS

.Quando no olhar da gente, a gente sente
que vislumbra a eternidade num segundo,
é que a gente se dá conta, de repente,
dos "assombrosos silêncios" deste mundo.

E quando, no silêncio, um som estridente
e atroz, que tergiversa sim o não rotundo,
melhor fora que desejasse estar ausente
ou num buraco negro bem profundo.

Fora só a voz da pele, a que pressente
que o instante é um ventre infindo e fundo...!
Fora só sereno e longo, e toda a gente

calaria a voz própria, pois mais fecundo
é o pulsar mudo do grito, na mão-semente
que o rasgar fácil da terra, no roubo imundo.


  Teresa Teixeira/Sfich

PORTO

Pensei que não se aportasse na cidade
Por falta de amarras ou de molhe
Às vezes o preconceito que nos tolhe
Também nos turva a vista e a vontade

Afinal, há molhe e amarras; E há mais:
Há um cais que se estende; Porto sem fim!...
Do tamanho dos remorsos que há em mim
Porque todos os remorsos são iguais

Um dia hei-de chorar... chorar contigo...
(Ainda que inundemos a Ribeira)
À proa dum rabelo sem abrigo,

de coração partido e alma inteira
Eis um desígnio mais, e que eu persigo,
Até aportar no cais à tua beira.


    sfich

Alcácer-Quibir

Amália, Camões, versos magoados
Marasmo de Morfeu, que não perdoa
Ascendentes futuros doutros fados
Cantados (Lá menor) em Nau de Goa

No comboio descendente de Pessoa
Um estridente trepidar para quem souber
Que é azul o céu em «Alcácer-Que-Vier»
Está prevista neblina para Lisboa.

Irá permanecer teimosa sem saber:
que a saudade, enfim...é o nosso jeito
E que é vã a tentativa de a vencer.

Mas em gesto inusitado e rarefeito,
Anda turvando olhares, por não querer
Que o mundo nos olhe com respeito.
sfich

Linhas Cruzadas


Nem sempre me quis quando amei
E nem sempre quis que me quisessem
A não ser que sentisse o que me dessem
Ser claro e amplo reflexo do que dei

No amor, a certeza que encontrei
É assim um pouco menos que desgraça...
E já não sei se é isso por que errei
Ou aquele sentimento que não passa

Há quem saiba definir sua virtude
Insiste e não desiste da procura
Por mim, nunca soube ou nunca pude

Apenas sei definir esta amargura
E às vezes uma ilusão que não ilude
se é a'ridez da vida que perdura...
  sfich

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Rio Douro

Sou um rabelo sem leme
nas águas à flor do Tejo,
e o seu arrais já não teme
o naufrágio dum desejo

porque é no Douro 
que eu sinto o tesouro
da coisa sentida!
Socalcos vinhedos
suportam segredos
esteios de vida

E amendoeiras
das flores primeiras
quando acaba o frio...
Depois o zumbido
do néctar colhido
da abelha e do rio.


A gente pressente
quem segue a corrente
pelo tom de voz
quando o olhar da gente
é caudal constante
e é nascente e foz

   sfich

Naufrágio


A fonte subliminar dos meus sentidos,
jorra valores refutados sem querer.
São estertores de sonhos proibidos
ou virtudes que não soube merecer?

Liberto-me num suspiro sincopado,
que descomprime uma ansiedade
a lembrar um suspiro equivocado
esquecendo uma angústia de verdade.

Visto um olhar de chuva no dia mais frio,
ao jeito de espera dum sol que inventasse;
como se nascera dum ventre vazio

ou se merecesse um sol com disfarce.
Barco encalhado num estranho baixio!
Perdeu remo e vela... ai que desenlace!...
sfich

domingo, 12 de maio de 2019

sexta-feira, 10 de maio de 2019

sábado, 20 de abril de 2019

sábado, 10 de novembro de 2018

Estados d'Alma

Quando acordo triste
porque sim
e, ao progredir em mim,
me sinto ausente,
é que me dou conta, de repente,
que de tudo quanto ri
se ri por fim.
e assim,
num laivo de razão,
que subsiste,
pensar que regredi
é uma aflição
e fico triste.

Náo sei
o que em mim resiste
não sei
que brisa me leva
mais um dia
uma hora
nem estou triste
e o peito chora.
não sei
se andam os pés
se dão passos
sem razão
meu caminho
não tem vez
parece livre
e é prisão
não sei
se durmo se sonho
quando a vida
me constrói
a alma ri-se
e eu componho
uma alegria
que dói.

sfich e M Conceição RoqueSilveira

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

saídas airosas

O êxtase numa interlocução desagradável,
quando um tolo a torna confusa,
consiste em parecer um tolo miserável,
se o tolo orgulhoso se recusa.

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«Caer en un charco inmundo y salir oliendo a rosas»

El éxtasis, en una interlocución desagradable,
cuando un necio la hace confusa,
consiste en parecer un necio miserable,
si el orgulloso necio se rehúsa.


   sfich

terça-feira, 29 de maio de 2018

domingo, 29 de abril de 2018

quinta-feira, 8 de março de 2018

Angústias


Em alta frequência o longo grito,
é o fio condutor da eternidade.
Não passa duma torpe falsidade,
o saber do Céu, que nos é dito.

Morfologia dum sonho aflito:
É quimera disforme, ou a vontade
que se traduz, entre nós, realidade?
- Talvez falsa percepção do infinito... -

Por um feixe de luz, talvez um dia,
na incidência justa do saber
se aclare o tempo-espaço que nos guia

e saibamos, para sempre, o que é morrer.
Enquanto adormece a nostalgia,
embalada na esperança de viver.
sfich

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Doce Mouquice

Se eu dissesse da palavra que não disse
e nem sequer à escrita resgatada
não teria um ar de gente que se visse
talvez um esgar de gente descarada

Expressão sem razão não dá com nada
os dados baralhados são chatice
pois quando a palavra é mal tratada
não é razão fundamentada é rabugice

Porém ficar calada é labreguice
melhor dizer uma bela asneirada
que o silêncio gritado da mesmice

ah surdez que me ouve doce mouquice
ela morde a língua ensanguentada
e engole a pontuação por lambarice

RoqueSilveira/sfich

terça-feira, 21 de novembro de 2017

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Nau de Pedra

Se em Trás-Os-Montes eu fosse rio
para ser vale e planalto e tudo à uma,
seria flor de amendoeira e vento frio
e geada à soalheira e neve e bruma...
Se ao menos eu fosse pedra dura
e flor de videira em viço perfumada...
Seria sol a pino, em noite escura,
candura de bonina e alvorada!...


   sfich

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

terça-feira, 7 de novembro de 2017

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

sábado, 4 de novembro de 2017

Pedro


O PREDADOR

Intriguista com cara de tritão,
Justo padrão de marialva altivo;
Bronco, hediondo, agressivo;
Vaidoso, caprichoso, parvalhão.

Faz do jogo sórdido, sedução;
Até um ar sofrido vê lascivo;
Tudo ao seu redor lhe é cativo;
Predador sem pudor... Um furacão

Assim, frente ao seu espelho colorido,
Cuja imagen, Narciso, colhe e segue,
Não terá a noção de ter morrido

No Vórtice da vaidade, que o persegue.
Augúrio de castigo bem urdido;
Visto que a Natureza não prescreve.
    Joana

A UMA ESTRELA



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É tempo de definir o infinito
e todo o esplendor daquela estrela!
É tempo de explodir, soltar um grito
e dizer de mim para mim: eu quero vê-la...

«Pensar-te, mais que ter-te» foi assim:
Un sonho de ti, um sonho que foi meu;
Que já nem sei, sequer, se estás em mim,
ou se me vejo em ti, e tu sou eu!...

Sinto-me bem assim e até me acalma
saber-te bem dentro da minh'alma;
Quem me dera não ser de mim; ser teu.

  sfich

FINGUIM ROOF

FINGUIM ROOF
VISEU