segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Afectos protelados

… Pertence ao grupo de pessoas, que a gente guarda para sempre, mas que, por um ror de desencontros, mais a desconfiança do acaso, julga definitivamente perdidas; tal é a noção que se tem do espaço incerto e do tempo decorrido entre afectos. Encontrei-a acometida duma tristeza que nem sei!..De momento fiquei paralisada; mas logo recuperei para dizer de mim para mim: Nem pensar demovê-la deste estado com a exortação contraproducente e tonta, a que sempre se recorre nestas circunstâncias. A tristeza não é para brincadeiras, nem é coisa que se despeça assim, sem mais nem menos; isso já todos nós experimentámos com os resultados que todos conhecemos. Nem sei por que é que as pessoas insistem nessa de «não fiques triste» se o estado d’alma se mantém, seja qual for o esforço a empreender.
Nunca me tinha acontecido; tive de abandonar à pressa, a’legria do encontro para me afeiçoar àquela tristeza encontrada, que até parecia fora de contexto, mas que estava bem patente para quem quisesse sentir. Ali, em segundos, dividida entre o silêncio recomendado e o impulso próprio de quem se vê forçada a sublimar situações falando, preferi a cumplicidade das lágrimas e a comparticipação dum frémito descontrolado, enquanto tentava inventar maneiras e silêncios… segurei as mãos da minha amiga, tratei de me recompor num ar sereno, tão sereno quanto suave, no sentido de não parecer um corpo estranho… Só quando o pranto diminuiu de intensidade é que vim à fala, para lhe dizer: Chora o que tiveres de chorar, sente o que tiveres de sentir até ao fim… Eu também não gosto de abandonar a tristeza, só porque me pedem para deixar de estar triste; Mas não quero que a tua tristeza me impeça de te acompanhar até onde não seja inconveniente; Depois logo se verá… pode acontecer que, no caso da conversa fluir ao arrepio do teu estado de espírito, a tristeza se resolva a partir!.. Melhor assim, do que correr com ela de modos impróprios… -- é por demais conhecido o seu melindre…--
A minha amiga, depois de desviar o olhar do Céu, sem se mover (como quem acaba de pedir clemência) olhou-me nos olhos e disse: -Eh pá!.. Eu não pretendo contagiar-te, mas tu caíste do Céu para guardar em script o dizer dum grito…

Joana D’Arc

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